CONTEXTO: Essas revoluções caracterizam-se pela liderança da burguesia mercantil ascendente, contra o Antigo Regime
(absolutismo, mercantilismo, estamentos, intolerância religiosa) Revolução
Puritana:- Durante a transição do feudalismo para o capitalismo na Europa
ocidental, a burguesia emergente aliou-se aos reis, que através da
centralização do poder político, estavam consolidando um novo regime de
governo: o absolutismo. Nasciam assim, em detrimento da velha nobreza feudal e
da Igreja Católica, as monarquias nacionais, com características totalmente
contrárias ao localismo político que marcou a estrutura do poder feudal ao
longo da idade média.
A centralização dos poderes nas mãos do rei viabilizará o
surgimento de moedas e leis nacionais, além da padronização da própria defesa
militar, antes fragmentada com as cavalarias e agora representada por exércitos
nacionais. Essas condições trarão a estabilidade e retaguarda necessárias para
o sucesso dos empreendimentos burgueses, viabilizados principalmente pelo
comércio monetário, atividade que desde a reabertura do Mediterrâneo pelas
cruzadas na baixa idade média, será responsável por grande parte da acumulação
de capital no contexto do mercantilismo.Esta aproximação entre rei e burguesia nunca
foi uma aliança de princípios, e sim de conveniência, já que entre os séculos
XV e XVI rei e burguesia representavam o novo (capitalismo nascente), em
oposição ao velho (feudalismo decadente), caracterizado por elementos do clero
e da nobreza. Liquidada a ordem feudal, apesar de vestígios que ainda vão
permanecer nos séculos subsequentes, a burguesia enriquecida pelo comércio
monetário, tinha agora na figura do rei bem menos um aliado e bem mais um
obstáculo a ser eliminado. O intervencionismo do Estado tornava-se cada vez
menos protecionista e cada vez mais limitador de um maior acúmulo de capital.
Uma barreira para o progresso capitalista que precisava ser removida. A
burguesia, então, passou a lutar pelo exercício do poder político como
pré-condição para o próprio desenvolvimento do capitalismo.
Foi nesse contexto, acrescido de ingredientes religiosos,
que ocorreu a Revolução Puritana na Inglaterra em meados do século XVII,
complementada após quatro décadas pela Revolução Gloriosa que transformou a Inglaterra
num Estado liberal-burguês adotando um regime monárquico-parlamentar que se
mantém até os dias de hoje.
A evolução do absolutismo na Inglaterra ocorreu durante
os reinados das dinastias Tudor e Stuart. A primeira representou a consolidação
e o apogeu, respectivamente nos governos de Henrique VIII e sua filha Elisabeth
I, que ao morrer sem deixar herdeiros, promoveu o início da dinastia Stuart,
responsável pela crise desse regime político.
Jaime I - rei católico, já era clara a
oposição da burguesia a esse monarca, representada principalmente pela corrente religiosa dos
puritanos (calvinistas). Seguindo a mesma tendência absolutista que norteou o
governo de seu pai, Carlos I dissolveu o Parlamento em 1629 e passou a governar
sozinho. Dois anos depois, foi obrigado a aceitar a "Petição de
Direitos", que reconhecia a "Magna Carta" e limitava o poder
real. Após essas limitações, o Parlamento foi controlado pelos ministros do
rei. Enquanto o conde de Strafford restabeleceu antigos direitos feudais e
impôs o "ship-money" - taxa alfandegária, agora estendida às cidades
do interior -, a Câmara Baixa do Parlamento, ou seja, a Câmara dos Comuns,
dominada pela burguesia calvinista foi violentamente perseguida por Laud,
ministro e Arcebispo da Cantuária.
Carlos I - Neste momento, os Stuart governavam simultaneamente a
Inglaterra, Escócia e Irlanda. Tentando impor o anglicanismo, encontraram forte
resistência, quando em 1640 a Escócia presbiteriana invadiu a Inglaterra..
Diante desse quadro, o rei convocou o Parlamento, que entre 1640 e 1653 ficou
conhecido como "Longo Parlamento". Por pressão dos deputados
calvinistas, os ministros Strafford e Laud foram condenados a morte por
decapitação e o rei foi obrigado a abolir o "ship-money". Os
deputados ainda decidiram que o rei não poderia elevar impostos sem a aprovação
do Parlamento, que passava a ser convocado no mínimo a cada três anos.
REVOLUÇÃO PURITANA - Em 1641, a Irlanda católica inicia
uma revolta separatista, frente a supremacia protestante dos ingleses. Na
Inglaterra, se por um lado rei e Parlamento apoiavam a formação de um grande
exército para combater os católicos irlandeses, existiam divergências se o
comando do exército ficaria com o rei ou com as lideranças puritanas do
Parlamento. Iniciava-se assim, uma guerra civil onde os cavaleiros católicos e
anglicanos se aliaram ao rei contra a maioria do Parlamento, que recebeu forte
apoio de milícias londrinas. Essa guerra civil que se estendeu até 1645
correspondeu à primeira etapa da Revolução Puritana. Os partidários do monarca
eram representados principalmente pela nobreza feudal atrasada e pelo clero
anglicano. Já o Parlamento recebia o apoio de dois grupos políticos: o
"partido dos presbiterianos" (calvinistas), formado por mercadores ricos,
banqueiros e latifundiários da nova nobreza, e os "independentes",
cujo contingente principal era a média burguesia e a nova nobreza média e
pequena, com apoio de pequenos mercadores, artesãos e camponeses enriquecidos.
Visando abafar a onda revolucionária que poderia adquirir um caráter mais
popular e fugir ao controle da nova nobreza, o "partido dos
presbiterianos" conseguiu estabelecer um acordo secreto com o rei, e fazer
com que o parlamento aprovasse medidas de interesse da alta burguesia e da nova
nobreza. O descontentamento da população diante da conivência política do
Parlamento em relação ao rei, fortalece o "partido dos
independentes", de onde surgiu a principal liderança da revolução inglesa:
Oliver Cromwell.
Nascido de família aristocrática em 1599, Cromwell foi
eleito para integrar o Parlamento em 1640. Destacou-se na organização do
exército, sendo que suas tropas, formadas por camponeses e artesãos, eram
submetidas a uma rígida disciplina revolucionária. Em julho de 1645 Cromwell
derrotou o exército do rei, que depois de fugir para Escócia foi entregue pelos
próprios escoceses para Inglaterra em troca de 4000 mil libras esterlinas. Para
o partido dos presbiterianos a revolução estava concluída, já que o poder
estava nas mãos do Parlamento, restando apenas um acordo com o rei. Já para as
camadas populares, a revolução deveria avançar bem mais no plano social. Surgia
assim um novo partido, o dos "niveladores", composto principalmente
pela massa de camponeses e artesãos que reivindicavam sufrágio universal e a
devolução das terras "cercadas" aos camponeses. Os soldados de
Cromwell passam a apoiar os niveladores e o exército, convertido em foco de
propaganda revolucionária, foi dissolvido pelo Parlamento sob o pretexto de que
a guerra havia terminado. Essa medida oportunista do Parlamento, provocou uma
forte reação no exército, que depois disso, tomou a cidade de Londres,
assumindo de fato o poder.
As divergências entre oficiais independentes e
niveladores, fortaleceram o poder contra-revolucionário. Os presbiterianos
aliaram-se aos realistas e os escoceses voltaram a cruzar a fronteira da
Inglaterra, mas desta vez a favor do rei. O exército deixou suas divergências e
uniu-se através da liderança de Oliver Cromwell que derrotou os escoceses e
esmagou as forças realistas encarcerando o rei Carlos I. As massas populares
indignadas pressionaram o Parlamento para o julgamento imediato do rei, que foi
condenado por um tribunal instituído pela Câmara dos Comuns. No dia 30 de
janeiro de 1649 o rei foi decapitado sendo proclamada uma República na
Inglaterra governada pelo Parlamento e ministros por ele indicados.
Ainda em 1651 Cromwell publicou o "Ato de
Navegação" (lei sobre a navegação marítima) que permitia a importação pela
Inglaterra somente de mercadorias estrangeiras transportadas em embarcações
inglesas ou de países que produziam as mercadorias importadas. O Ato de
Navegação provocou uma forte reação dos holandeses que obtinham grandes lucros
com o comércio marítimo inglês. Os dois países mergulharam numa guerra que
durou dois anos, terminando em 1654 com a vitória da Inglaterra, marcando o
início efetivo de sua hegemonia marítima.
Em 1653, esmagando impiedosamente o movimento dos
niveladores, Cromwell introduziu uma eficiente censura e dividiu país em
distritos militares comandados por generais com plenos poderes de polícia.
Estava implantada uma ditadura militar que se estendeu até sua morte em 1658.
Com a morte de Oliver Cromwell, seu filho Richard,
assumiu o cargo de Lorde Protetor. Sem o reconhecimento do exército, foi logo
destituído.
REVOLUÇÃO GLORIOSA - o Parlamento convocado para
legitimar o poder dos generais. Com o crescimento da mobilização das camadas
populares, as elites assustadas, começaram a articular a restauração da
monarquia. . Com a morte de Carlos II (1685), subiu ao trono seu irmão Jaime
II, que procurou novamente conduzir o país para o catolicismo, fortalecendo seu
poder, em prejuízo do Parlamento Entrando em acordo secreto com Guilherme de
Orange, príncipe da Holanda e genro de Jaime II, o Parlamento se mobilizou
contra o rei, visando entregar-lhe o poder. As tropas abandonaram Jaime II e em
junho de 1688 Guilherme de Orange era feito rei com o nome de Guilherme III.
Este episódio é conhecido na história como "Revolução Gloriosa". Sem
derramamento de sangue e representando um compromisso de classe entre os
grandes proprietários rurais e a burguesia inglesa, a Revolução Gloriosa
marginalizava o povo além de mostrar que para acabar com o absolutismo, não era
necessária a eliminação da figura do rei, desde que esse aceitasse se submeter
às decisões do Parlamento. Representando a transição política de uma Monarquia
Absolutista para uma Monarquia Parlamentar, a Revolução Gloriosa inaugurava a
atual política inglesa onde o poder do rei está submetido ao Parlamento
A vitória de Guilherme de Orange -O novo rei aceitou a "Declaração de Direitos"
(Bill of Rights) e em 1689 assumiu a Coroa, marcando o fim do choque entre rei
e Parlamento. Essa declaração eliminava a censura política e reafirmava o direito
exclusivo do Parlamento em estabelecer impostos, e o direito de livre
apresentação de petições. Destaca-se ainda a questão militar, onde o
recrutamento e manutenção do exército somente seriam admitidos com a aprovação
do Parlamento. Com a Revolução Gloriosa, a burguesia inglesa se libertava do
Estado absolutista, que com seu permanente intervencionismo era uma barreira
para um mais amplo acúmulo de capital. Dessa forma a burguesia, aliada a
aristocracia rural, passou a exercer diretamente o poder político através do
Parlamento, caracterizando a formação de um Estado liberal, adequado ao
desenvolvimento do capitalismo, que junto a outros fatores, permitirá o
pioneirismo inglês na Revolução Industrial em meados do século XVIII.
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