O gênero é a diferenciação entre homens e mulheres em termos de características culturalmente definidas e status na sociedade. A divisão de gênero existe quando os homens e as mulheres em uma sociedade recebem efetivamente parcelas desiguais de dinheiro, poder, prestígio e outros recursos. Esta divisão de gênero é sustentada pelos ciclos de socialização, que se reforçam mutuamente pela identidade de gênero e por crenças relacionadas ao gênero, que, por sua vez, se tornam a base para discriminação e crenças preconceituosas, frutos da ameaça ressentida pelos homens.
“Talvez a primeira diversidade percebida pelos e entre os seres humanos tenha sido aquela entre homens e mulheres, tomando por base as suas diferenças biológicas, ou, mais claramente, entre seus corpos. Nem todas as sociedades e culturas humanas, ao longo da História, organizaram e interpretaram as relações entre homens e mulheres da mesma maneira. Especialmente na Pré- História, houve sociedades poliândricas. Contemporaneamente, é possível perceber condições distintas entre as mulheres dos países ocidentais e as mulheres de países muçulmanos. Mais ainda: entre mulheres camponesas e aquelas que vivem nas cidades; entre mulheres das classes sociais altas/médias e aquelas das classes subalternas. De um modo geral, mas não universal, nas mais diversas sociedades, as diferenças sexuais entre homens e mulheres serviram de base para a organização da divisão sexual do trabalho, em que certas atividades foram atribuídas aos homens e outras, às mulheres. Usualmente, aos primeiros se reservaram as atividades da esfera pública e, às segundas, as atividades da esfera privada, vinculadas estas à reprodução da família e à gestão do espaço doméstico. Tais práticas sociais, ao mesmo tempo em que se concretizavam, propiciavam representações ou interpretações acerca das mesmas, conferindo significados aos elementos masculinos e aos femininos. Assim, masculino foi associado à cultura, àquilo produzido, criado pela ação humana, e feminino foi associado à natureza, àquilo já determinado pela biologia. Essas práticas e representações sociais, por sua vez, engendraram relações de poder assimétricas entre homens e mulheres, estabelecendo a submissão destas àqueles, configurando o patriarcalismo como modelo/padrão dominante da relação entre os dois gêneros. Como se só houvesse este único tipo de relação. Outras associações vinculadas ao sexo foram sendo elaboradas: atribuiu-se aos homens a racionalidade, o pensamento lógico, o cálculo; às mulheres, a afetividade, as emoções, a intuição. As representações/interpretações dos atributos femininos estavam diretamente articuladas com a procriação e a maternidade. As formas de viver e pensar o masculino e o feminino tiveram conseqüências concretas: reforçavam a estrutura familiar patriarcal e serviram de justificativa para ações no sentido de acentuar os papéis sociais atribuídos a homens e mulheres. Assim, deram margem, por exemplo, a uma educação diferenciada para meninos e meninas, no sentido de reprodução daqueles papéis sociais distintos, a exemplo de brincadeiras caracterizadas como masculinas e brincadeiras caracterizadas como femininas”... Rosa Maria Godoy Silveira
Os professores e psicoterapeutas Sergio Carrara e Maria Luiza Heilbon, no programa da TV Cultura denominado Café Filosófico, apresentaram (dezembro de 2009) dois subtemas de suma relevância para o tema que estamos estudando, são eles: Sexualidade no Mundo Contemporâneo e Masculinidade em Crise, estes palestrantes apresentaram exatamente a crise que hoje nós homens e mulheres contemporâneos estamos enfrentando, tentando nos livrar dos preconceitos e de ações que antes realizávamos, sem dar conta dos erros cometidos ao separar o homem e mulher e dar a estes funções tão distintas e determinadas, como se um ou outro não fosse capaz de realizar praticamente as mesmas tarefas. Caminhamos na atualidade para essa discussão, onde nem o feminismo da década tem mais vez, mas sim a igualdade entre os homem e mulher e melhor ainda, sem se preocupar com quem este ser está se relacionando, o importante é cada um de nós – homem ou mulher – contribuirmos para a nossa sociedade de forma íntegra.
A seguir, estudaremos a mulher no tempo histórico
GRÉCIA - Para que se tenha uma imagem mais precisa da vida da mulher grega é necessário, em primeiro lugar, estabelecer os parâmetros de tempo e espaço, já que, por exemplo, a vida das mulheres - rainhas - dos poemas homéricos era substancialmente mais livre do que a das mulheres das cidades-estado e, entre essas, havia variações conforme o lugar. Assim, as mulheres espartanas eram muito mais livres do que as atenienses, e recebiam educação estatal. Mesmo no caso específico de Atenas, é necessário fazer reparos à observação. Ela é quase verdadeira para as mulheres da elite, segregadas de todo convívio que ultrapassasse o limite da família. Mas mesmo elas desempenhavam papéis importantes na religião familiar (casamentos, nascimentos, cerimônias fúnebres), e na religião cívica (os rituais de fertilidade e determinadas funções sacerdotais eram exclusivamente femininas). A mulher pobre, devido à necessidade de trabalhar, gozava de uma liberdade maior e, provavelmente, administrava seu dinheiro, muitas vezes era obrigada pelos pais, a se prostituir Como último ponto: as mulheres recebiam educação? Se pensarmos em Esparta, seguramente sim. Se pensarmos em Atenas... os textos dizem que não. Entretanto, os vasos que apresentam figuras de mulheres leitoras estão entre os mais antigos exemplos de vasos cujo tema é a leitura. Seriam essas mulheres reais ou uma idealização? Não sabemos...
IDADE MÉDIA - a sociedade sustentava a questão ideológica da mulher como "objeto de submissão" dentro de um poderio social. as mulheres eram vistas como ‘bodes expiatórios’ de todas as falhas e males humanos. Mesmo os poetas que cantavam o amor, muitas vezes cercavam esse amor de sofrimento e morte, chegando à conclusão de que o amor e a mulher eram perigosos para o homem. Os fatores ideológicos estão inseridos na Natureza Humana que está imposta à "figura feminina", refletindo sob referenciais que possam preservar uma postura única e universal. A exemplo, o livro sagrado dos cristãos, afirma o mito que explicita o "Pecado Original", a fim de justificar e, ao mesmo tempo conduzir as atitudes e, inclusive de responsabilizar a mulher como a "origem de todos os males sociais". "A mulher notou que era tentador comer da árvore, pois era atraente aos olhos e desejável para alcançar inteligência. Colheu o fruto, comeu e deu também ao marido que estava junto, e ele comeu. - E o homem disse: A mulher que me deste como companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore e eu comi". (Gênesis: 3, 6; 12)
Tais conceitos foram assim conservados, principalmente, por dogmas puramente religiosos, e, admitindo uma dicotomia no que concerne à Mulher, consagrada na figura feminina, oscilando entre a misoginia e a idealização. Sendo designada a eterna encarnação da Eva tentadora e corruptora; obstáculo extremo no caminho da salvação. O qual Santo Agostinho assim a refere: "A mulher é um animal que não é seguro nem estável é odienta para o tormento do marido, é cheia de maldade e é o princípio de todas as demandas e disputas, via e caminho de todas as iniqüidades". (Beauvioir: 1980, 126) Logo, opondo-se à misoginia, tem-se a corrente da idealização e exaltação da Mulher, defendendo os valores conceptuais que vão desde o fato de "Eva ter sido feita dentro do paraíso, e Adão fora dele", até a caracterização peculiar da concepção. Ainda mais, foi uma mulher que concebeu Deus, bem como a aparição deste, após o Ministério da Ressurreição, às mulheres. Sendo também o culto à Virgem Maria um dos fatores culminantes que contribuíram com esta corrente por toda a Idade Média e ao longo da história. As mulheres passaram, ou melhor, continuaram a ser consideradas pelo clero como criaturas débeis e suscetíveis as tentações do diabo, logo, deveriam estar sempre sob a tutela masculina. Para propor e estender suas verdades e juízos morais, a Igreja utilizava-se de um veículo eficiente, a pregação e, em especial no século XIII, a que era feita pelos franciscanos, nas ruas das cidades, para toda a população. Nos sermões feitos pelos pregadores era muito comum o uso do exempla, que eram histórias curtas e que poderiam relatar a vida de um santo ou santa (hagiografia). As vidas de algumas santas, de preferência de prostitutas arrependidas, eram utilizadas nos sermões. Nelas, todas as características que eram atribuídas as mulheres apareciam e eram assim difundidas e disseminadas por toda a Cristandade.
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