Prazer em ser educadora

Graduada em Sociologia Política (USP), História (PUC-SP), Mestre em Ciências Sociais (área educação) UFPE, desde muito jovem me perguntava por que tantas desigualdades sociais no meu país? As respostas que eu obtinha não eram satisfatórias, até que um dia (ensino médio) fiz muitas perguntas a um querido professor de história (Otaviano) e ele me disse: "com tantas dúvidas, acho melhor você estudar História, só ela te saciará ou provocará mais dúvidas ainda, o que fará de você, uma eterna pesquisadora"
Amei aquela resposta desafiadora e assim, paralelo a um período ditatorial me tornei uma mulher questionadora, participante do movimento estudantil universitário, e do primeiro partido da classe de fato trabalhadora do meu país, uma mulher que pouco a pouco vai percebendo o que fizeram com a América Latina, sem nunca deixar de vislumbrar-se com as "coisas" da Europa anglo-francesa.
Aliei a sociologia à história e ambas me dão uma outra visão do mundo, seja nos aspectos econômico-político-sócio-cultural, permitindo-me conviver com as diversidades, com as minorias sem discriminações, aprendi a acreditar em meu país, no meu povo.
Assim posso repassar aos meus alunos das mais diversas idades ou classes sociais, o conhecimento que venho adquirindo no decorrer dos tempos, mostrando a eles que devemos nos qualificar, nos especializar, não para tornarmos apenas um acadêmico, mas para nos transformar em um humanista sensível à inclusão social, acreditando na mudança de um homem quando tem oportunidades.
Foi assim que acabei de certa forma, influenciando ou alicerçando a ideia de alguns alunos a cursarem História ou Ciências Sociais. A eles (últimos) : Trícia, Dimitri , Amanda, Arlan , Laís, Claudia... (não é possível citar o nome de todos) eu dedico esse blog e espero poder tirar dúvidas e compartilhar com todos os amantes das ciências humanas.
Muito prazer em ser educadora ... Beth Salvia

domingo, 20 de fevereiro de 2011

DIVERSIDADE DE GÊNERO



O gênero é  a diferenciação  entre    homens  e  mulheres  em termos  de  características  culturalmente  definidas  e  status  na  sociedade. A divisão  de  gênero  existe  quando  os  homens  e  as  mulheres  em uma  sociedade  recebem  efetivamente  parcelas  desiguais  de  dinheiro, poder, prestígio  e  outros  recursos. Esta divisão de  gênero  é  sustentada  pelos  ciclos  de  socialização, que  se  reforçam  mutuamente  pela  identidade  de  gênero  e  por  crenças  relacionadas  ao gênero, que, por  sua  vez,  se  tornam  a  base  para  discriminação  e  crenças  preconceituosas, frutos  da  ameaça  ressentida  pelos  homens.
 “Talvez a primeira diversidade percebida pelos e entre os seres humanos tenha sido aquela entre homens e mulheres,  tomando por base as suas diferenças biológicas, ou, mais claramente, entre seus corpos.  Nem  todas  as  sociedades  e  culturas  humanas,  ao  longo  da  História, organizaram e interpretaram as relações entre homens e mulheres da mesma maneira.  Especialmente  na  Pré-  História,  houve  sociedades  poliândricas. Contemporaneamente,  é  possível  perceber  condições  distintas  entre  as mulheres dos países ocidentais  e as mulheres de países muçulmanos. Mais ainda:  entre mulheres  camponesas  e  aquelas  que  vivem  nas  cidades;  entre mulheres das classes sociais altas/médias e aquelas das classes subalternas. De  um  modo  geral,  mas  não  universal,  nas  mais  diversas  sociedades,  as diferenças  sexuais  entre  homens  e  mulheres  serviram  de  base  para  a organização  da  divisão  sexual  do  trabalho,  em  que  certas  atividades  foram atribuídas aos homens e outras, às mulheres. Usualmente, aos primeiros se reservaram as atividades da esfera pública e, às segundas, as atividades da esfera privada, vinculadas estas à reprodução da família e à gestão do espaço doméstico. Tais práticas sociais, ao mesmo tempo em que se concretizavam, propiciavam representações ou interpretações acerca das mesmas, conferindo significados aos elementos masculinos e aos  femininos. Assim, masculino  foi associado à cultura, àquilo produzido, criado pela ação humana, e feminino foi associado à  natureza,  àquilo    determinado  pela  biologia.  Essas  práticas  e representações  sociais,  por  sua  vez,  engendraram  relações  de  poder assimétricas  entre  homens  e  mulheres,  estabelecendo  a  submissão  destas àqueles,  configurando  o  patriarcalismo como modelo/padrão  dominante  da relação entre os dois gêneros. Como se só houvesse este único tipo de relação. Outras  associações  vinculadas  ao  sexo  foram  sendo  elaboradas:  atribuiu-se aos homens a  racionalidade, o pensamento  lógico, o cálculo; às mulheres, a afetividade,  as  emoções,  a  intuição.  As  representações/interpretações  dos atributos  femininos  estavam  diretamente  articuladas  com  a  procriação  e  a maternidade.  As formas de viver e pensar o masculino e o feminino tiveram conseqüências concretas:  reforçavam  a  estrutura  familiar  patriarcal  e  serviram  de justificativa para ações no sentido de acentuar os papéis sociais atribuídos a homens  e mulheres.  Assim,  deram margem,  por  exemplo,  a  uma  educação diferenciada  para  meninos  e  meninas,  no  sentido  de  reprodução  daqueles papéis  sociais  distintos,  a  exemplo  de  brincadeiras  caracterizadas  como masculinas e brincadeiras caracterizadas como femininas”... Rosa Maria Godoy Silveira
Os professores e psicoterapeutas Sergio Carrara e Maria  Luiza Heilbon, no programa da TV Cultura denominado Café Filosófico, apresentaram (dezembro de 2009) dois subtemas de suma relevância para  o tema que estamos estudando, são eles: Sexualidade no Mundo Contemporâneo e Masculinidade em Crise, estes palestrantes apresentaram exatamente a crise que hoje nós homens e mulheres contemporâneos estamos enfrentando, tentando nos livrar dos preconceitos e de ações que antes realizávamos, sem dar conta dos erros cometidos ao separar o homem  e mulher e dar a estes funções tão distintas e determinadas, como se um ou outro não fosse capaz de realizar praticamente as mesmas tarefas. Caminhamos na atualidade para essa discussão, onde nem o feminismo da década  tem mais vez, mas sim a igualdade entre os homem e mulher e melhor ainda, sem se preocupar com quem este ser está se relacionando, o importante é cada um de nós – homem ou mulher – contribuirmos para a nossa sociedade de forma íntegra.
A seguir, estudaremos a mulher no tempo histórico
GRÉCIA - Para que se tenha uma imagem mais precisa da vida da mulher grega é necessário, em primeiro lugar, estabelecer os parâmetros de tempo e espaço, já que, por exemplo, a vida das mulheres - rainhas - dos poemas homéricos era substancialmente mais livre do que a das mulheres das cidades-estado e, entre essas, havia variações conforme o lugar. Assim, as mulheres espartanas eram muito mais livres do que as atenienses, e recebiam educação estatal. Mesmo no caso específico de Atenas, é necessário fazer reparos à observação. Ela é quase verdadeira para as mulheres da elite, segregadas de todo convívio que ultrapassasse o limite da família. Mas mesmo elas desempenhavam papéis importantes na religião familiar (casamentos, nascimentos, cerimônias fúnebres), e na religião cívica (os rituais de fertilidade e determinadas funções sacerdotais eram exclusivamente femininas). A mulher pobre, devido à necessidade de trabalhar, gozava de uma liberdade maior e, provavelmente, administrava seu dinheiro, muitas vezes era obrigada pelos pais, a se prostituir Como último ponto: as mulheres recebiam educação? Se pensarmos em Esparta, seguramente sim. Se pensarmos em Atenas... os textos dizem que não. Entretanto, os vasos que apresentam figuras de mulheres leitoras estão entre os mais antigos exemplos de vasos cujo tema é a leitura. Seriam essas mulheres reais ou uma idealização? Não sabemos...
IDADE MÉDIA -  a sociedade sustentava a questão ideológica da mulher como "objeto de submissão" dentro de um poderio social. as mulheres eram vistas como ‘bodes expiatórios’ de todas as falhas e males humanos. Mesmo os poetas que cantavam o amor, muitas vezes cercavam esse amor de sofrimento e morte, chegando à conclusão de que o amor e a mulher eram perigosos para o homem.  Os fatores ideológicos estão inseridos na Natureza Humana que está imposta à "figura feminina", refletindo sob referenciais que possam preservar uma postura única e universal. A exemplo, o livro sagrado dos cristãos, afirma o mito que explicita o "Pecado Original", a fim de justificar e, ao mesmo tempo conduzir as atitudes e, inclusive de responsabilizar a mulher como a "origem de todos os males sociais". "A mulher notou que era tentador comer da árvore, pois era atraente aos olhos e desejável para alcançar inteligência. Colheu o fruto, comeu e deu também ao marido que estava junto, e ele comeu. - E o homem disse: A mulher que me deste como companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore e eu comi". (Gênesis: 3, 6; 12) 
 Tais conceitos  foram assim conservados, principalmente, por dogmas puramente religiosos, e, admitindo uma dicotomia no que concerne à Mulher, consagrada na figura feminina, oscilando entre a misoginia e a idealização. Sendo designada a eterna encarnação da Eva tentadora e corruptora; obstáculo extremo no caminho da salvação. O qual Santo Agostinho assim a refere: "A mulher é um animal que não é seguro nem estável é odienta para o tormento do marido, é cheia de maldade e é o princípio de todas as demandas e disputas, via e caminho de todas as iniqüidades". (Beauvioir: 1980, 126) Logo, opondo-se à misoginia, tem-se a corrente da idealização e exaltação da Mulher, defendendo os valores conceptuais que vão desde o fato de "Eva ter sido feita dentro do paraíso, e Adão fora dele", até a caracterização peculiar da concepção. Ainda mais, foi uma mulher que concebeu Deus, bem como a aparição deste, após o Ministério da Ressurreição, às mulheres. Sendo também o culto à Virgem Maria um dos fatores culminantes que contribuíram com esta corrente por toda a Idade Média e ao longo da história. As mulheres passaram, ou melhor, continuaram a ser consideradas pelo clero como criaturas débeis e suscetíveis as tentações do diabo, logo, deveriam estar sempre sob a tutela masculina. Para propor e estender suas verdades e juízos morais, a Igreja utilizava-se de um veículo eficiente, a pregação e, em especial no século XIII, a que era feita pelos franciscanos, nas ruas das cidades, para toda a população. Nos sermões feitos pelos pregadores era muito comum o uso do exempla, que eram histórias curtas e que poderiam relatar a vida de um santo ou santa (hagiografia). As vidas de algumas santas, de preferência de prostitutas arrependidas, eram utilizadas nos sermões. Nelas, todas as características que eram atribuídas as mulheres apareciam e eram assim difundidas e disseminadas por toda a Cristandade. 

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